Fazia
um clima ameno na manhã daquele sábado. O céu estava cinza, chuvoso e trazia
lembranças da infância. Lembrava-me dos biscoitos de polvilho com chá que eram
típicos de dias chuvosos, sempre acompanhados pelo som da televisão ou do rádio,
que informava os acontecimentos do dia anterior no boletim policial.
Às 10 da manhã partia o ônibus que tinha por
função me levar até minha cidade natal. Passagem comprada, mala na mão e um
coração radiante por encontrar a família que havia visto pela última vez há
dois meses.
Eis que
encosta o ônibus esperado. A visão do carro me deixou eufórica e apreensiva,
afinal em cinco horas e meia estaria pisando em terras mariluzenses. Entreguei
a passagem e tomei meu lugar no ônibus, poltrona 25, lado direito e próximo à
janela. Enquanto isso a chuva caía brindando à terra que aguardava ansiosa pelo
carinho de seus pingos.
Em
tempos de modernidade quem deixa de carregar consigo um ipod ou mp3 se vê
obrigado a dormir ou pensar na vida enquanto viaja. Era meu caso. Sentada
confortavelmente resolvi dormir, mas o ambiente e situações não me permitiram.
Sem que percebesse me peguei analisando as pessoas presentes naquele ônibus e
recordando de viagens anteriores.
O choro
da criança, o beliscão da mãe, o senhor que pergunta a todos os que estavam a
sua volta qual era o destino, a mocinha que finge estar dormindo quando um novo
passageiro embarca, com o intuito de impedir que se acomode na poltrona vazia
ao seu lado. Quanta coisa diferente que vemos, mas normalmente não enxergamos!
Metade
do caminho, hora do almoço. Alguém tira da bolsa um pacote de alguma coisa
qualquer. Levanta no carro fechado um cheiro forte de salgadinho de milho. Uns
fazem cara de fome, outros, cara de sede ou náuseas e ainda assim o homem da poltrona
do lado não perde seu assunto com a vizinha de sítio que o acompanha na
jornada.
O
motorista, sempre impassível, segue o caminho pelos patrões determinado. Sobe
gente, desce gente. Uns se despedem dos amigos queridos, outros enchem os olhos
d’água por reencontrar o pai. É um ciclo de sentimentos e emoções. O homem
cansado do trabalho em outra cidade aguarda feliz o destino para que, depois de
uma longa semana, possa abraçar a esposa em outra cidade e o filho
recém-nascido. A mulher tenta a todo custo fazer a ligação para o cunhado, sem
êxito.
Enfim
chego ao meu destino. Puxo a campainha, recolho minhas coisas. É minha vez de
saudar com alegria o rosto de minha mãe que estava à minha espera. Depois do
longo abraço materno observo que o ônibus segue viagem e a espera de outras
tantas pessoas continua até a próxima parada.
Au revoir
Expresso Nordeste. Até depois do feriado!