terça-feira, 10 de julho de 2012

Expresso Nordeste - por Jéssica Santos




Fazia um clima ameno na manhã daquele sábado. O céu estava cinza, chuvoso e trazia lembranças da infância. Lembrava-me dos biscoitos de polvilho com chá que eram típicos de dias chuvosos, sempre acompanhados pelo som da televisão ou do rádio, que informava os acontecimentos do dia anterior no boletim policial.
 Às 10 da manhã partia o ônibus que tinha por função me levar até minha cidade natal. Passagem comprada, mala na mão e um coração radiante por encontrar a família que havia visto pela última vez há dois meses.
Eis que encosta o ônibus esperado. A visão do carro me deixou eufórica e apreensiva, afinal em cinco horas e meia estaria pisando em terras mariluzenses. Entreguei a passagem e tomei meu lugar no ônibus, poltrona 25, lado direito e próximo à janela. Enquanto isso a chuva caía brindando à terra que aguardava ansiosa pelo carinho de seus pingos.
Em tempos de modernidade quem deixa de carregar consigo um ipod ou mp3 se vê obrigado a dormir ou pensar na vida enquanto viaja. Era meu caso. Sentada confortavelmente resolvi dormir, mas o ambiente e situações não me permitiram. Sem que percebesse me peguei analisando as pessoas presentes naquele ônibus e recordando de viagens anteriores.
O choro da criança, o beliscão da mãe, o senhor que pergunta a todos os que estavam a sua volta qual era o destino, a mocinha que finge estar dormindo quando um novo passageiro embarca, com o intuito de impedir que se acomode na poltrona vazia ao seu lado. Quanta coisa diferente que vemos, mas normalmente não enxergamos!
Metade do caminho, hora do almoço. Alguém tira da bolsa um pacote de alguma coisa qualquer. Levanta no carro fechado um cheiro forte de salgadinho de milho. Uns fazem cara de fome, outros, cara de sede ou náuseas e ainda assim o homem da poltrona do lado não perde seu assunto com a vizinha de sítio que o acompanha na jornada.
O motorista, sempre impassível, segue o caminho pelos patrões determinado. Sobe gente, desce gente. Uns se despedem dos amigos queridos, outros enchem os olhos d’água por reencontrar o pai. É um ciclo de sentimentos e emoções. O homem cansado do trabalho em outra cidade aguarda feliz o destino para que, depois de uma longa semana, possa abraçar a esposa em outra cidade e o filho recém-nascido. A mulher tenta a todo custo fazer a ligação para o cunhado, sem êxito.
Enfim chego ao meu destino. Puxo a campainha, recolho minhas coisas. É minha vez de saudar com alegria o rosto de minha mãe que estava à minha espera. Depois do longo abraço materno observo que o ônibus segue viagem e a espera de outras tantas pessoas continua até a próxima parada.
Au revoir Expresso Nordeste. Até depois do feriado!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

José Saramago

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo
.

José Saramago

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo
.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Audrey Hepburn



Para ter lábios atraentes, diga palavras doces; para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas; para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos; para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia; para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho; pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas;lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo; a beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside.



domingo, 1 de julho de 2012

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"


Esta é a Forma FêmeaEsta é a forma fêmea: 
dos pés à cabeça dela exala um halo divino, 
ela atrai com ardente 
e irrecusável poder de atração, 
eu me sinto sugado pelo seu respirar 
como se eu não fosse mais 
que um indefeso vapor 
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado 
— artes, letras, tempos, religiões, 
o que na terra é sólido e visível, 
e o que do céu se esperava 
e do inferno se temia, 
tudo termina: 
estranhos filamentos e renovos 
incontroláveis vêm à tona dela, 
e a acção correspondente 
é igualmente incontrolável; 
cabelos, peitos, quadris, 
curvas de pernas, displicentes mãos caindo 
todas difusas, e as minhas também difusas, 
maré de influxo e influxo de maré, 
carne de amor a inturgescer de dor 
deliciosamente, 
inesgotáveis jactos límpidos de amor 
quentes e enormes, trémula geléia 
de amor, alucinado 
sopro e sumo em delírio; 
noite de amor de noivo 
certa e maciamente laborando 
no amanhecer prostrado, 
a ondular para o presto e proveitoso dia, 
perdida na separação do dia 
de carne doce e envolvente. 

Eis o núcleo — depois vem a criança 
nascida de mulher, 
vem o homem nascido de mulher; 
eis o banho de origem, 
a emergência do pequeno e do grande, 
e de novo a saída. 

Não se envergonhem, mulheres: 
é de vocês o privilégio de conterem 
os outros e darem saída aos outros 
— vocês são os portões do corpo 
e são os portões da alma. 

A fêmea contém todas 
as qualidades e a graça de as temperar, 
está no lugar dela e movimenta-se 
em perfeito equilíbrio, 
ela é todas as coisas devidamente veladas, 
é ao mesmo tempo passiva e activa, 
e está no mundo para dar ao mundo 
tanto filhos como filhas, 
tanto filhas como filhos. 
Assim como na Natureza eu vejo 
minha alma refletida, 
assim como através de um nevoeiro, 
eu vejo Uma de indizível plenitude 
e beleza e saúde, 
com a cabeça inclinada e os braços 
cruzados sobre o peito 
— a Fêmea eu vejo.

George Byron

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Sabemos tão pouco do que estamos a fazer / neste mundo, que eu me pergunto a mim próprio se a própria dúvida não está em dúvida.
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Os homens, afinal, vieram me libertar;
Não perguntei por quê, nem quis saber onde;
Enfim, para mim, era tudo a mesma coisa,
Agrilhoado ou livre, igualmente,
Eu aprendera a amar a desesperança



A Dança ''Pablo Neruda

"Não te amo como se fosse uma rosa de sal, topázio ou flecha de cravos que atiram chamas.
Te amo como se ama certas coisas escuras, secretamente, entre a sombra e a alma.
Eu te amo sem saber como nem quando nem de onde, te amo simplesmente, sem complicações nem orgulho.
Assim te amo porque não conheço outra maneira, tão profundamente que tua mão em mim é a minha,
tão profundamente, que quando fecho os olhos contigo eu sonho".
Essa inovação tem de ser trazida a seu ser, então o amor começará a fluir.