terça-feira, 31 de maio de 2011

As paredes de minha caverna


O dia nem clareou ainda e eu já estava atormentada pelas angustias de um novo dia, angustia que não tem nem um motivo para me perseguir. Não posso dizer que acordei desesperada de madrugada, pois ainda nem cheguei a dormir, mas de súbito no meio da noite ainda acordada viajando em meus pensamentos senti um aperto no peito, um frio na barriga, uma angustia sem fim, me veio em mentes sombras de um passado remoto do qual não queria me lembrar e percebi que ainda sou fraca, não tenho forças para lutar e que no fundo ainda sou um monstro, um monstro frio e sanguinário no qual me deixou marcas, marcas eternas que nunca irão me deixar.
A mente do ser humano é uma maquina maligna na qual ou você é o dominante, ou na maioria das vezes ela te dominará, mas isso acontecerá do mesmo jeito, mais cedo ou mais tarde.
Neste momento estou me sentindo um bicho, ainda filhote, acuado, amedrontado, chorão, perdido e esquecido em uma caverna qualquer, fria, úmida, escura, assustadora, onde meus próprios pensamentos me atormentam, me fazem chorar e pedir por clemência, ajoelhada ensangüentada, atormentada.
Os ruídos lá fora, ecoados em minha caverna parecem aumentar a cada suspiro e me ferem, em cortes profundos, com uma lamina envenenada, no qual o veneno me faz tremer, me arrepio, e me contorço no chão gélido de minha caverna sombria.
Acho apavorante o modo como nossos vícios e nossos medos nos tornam veneráveis, como pode um simples delírio nos dominar em questão de segundos e nos transformar em criaturas pequenas, medíocres e nojentas.
As paredes de minha caverna estão se movendo em minha direção, o ar está acabando, e o pouco que resta deste ar está poluído, envenenado, escuro, espesso, as sombras estão crescendo, se movimentando, virando monstros assustadores, apesar de não conseguirem me tocar suas palavras me atingem feito adagas vindas do mais profundo abismo do inferno, meus ombros estão se curvando, sinto que não suportarei por muito tempo, sei que não posso me entregar, mas não tenho forças para lutar, o ar está acabando, minha respiração já está fraca e ofegante, meus joelhos já se dobraram, meus ombros estão curvados, o sangue escorrendo pela minha pele, meu espírito já abandonou meu corpo, e agora observa ao longe a destruição de minha carne, uma criatura ainda pequena, um filhote, esquecido em meio as trevas, engolido por um mal que o mundo ainda não viu igual, a escuridão avançava, cobrindo o pouco de luz que ainda restava, a batalha acabou, o choro secou, e a luz já não existe mais.

Hellen Gregório

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