quinta-feira, 14 de julho de 2011

Pablo Neruda

Gosto quando te calas



Gosto quando te calas porque estás como ausente,

e me ouves de longe, minha voz não te toca.

Parece que os olhos tivessem de ti voado

e parece que um beijo te fechara a boca.



Como todas as coisas estão cheias da minha alma

emerge das coisas, cheia da minha alma.

Borboleta de sonho, pareces com minha alma,

e te pareces com a palavra melancolia.



Gosto de ti quando calas e estás como distante.

E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:

Deixa-me que me cale com o silêncio teu.



Deixa-me que te fale também com o teu silêncio

claro como uma lâmpada, simples como um anel.

És como a noite, calada e constelada.

Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.



Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se tivesses morrido.

Uma palavra então, um sorriso bastam.

E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

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