segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Érico Caldeira


O amante é cego...

            Novamente pressionado pelo nem tão querido companheiro que responde pelo nome de cérebro, decidi pensar um pouco mais sobre o famoso clichê “O amor é cego.”.
            De fato é uma frase que se verifica de tempos em tempos, pelo menos metaforicamente, mas podemos mudar nossa perspectiva para observar um caso bastante real de amor: o do cego.
Como será que um cego de nascença percebe o amor? Será que seu sentimento é ainda mais genuíno que o habitual, já que ele não pode ser “trapaceado” pela beleza do outro? Não faço a menor idéia, mas gosto de pensar que, de fato, há vezes em que a visão só nos limita, nos impede de perceber... outras coisas. A voz suave de uma pessoa querida, um cheiro familiar, o calor de um abraço e assim por diante.
               É nesse espírito que aqui deixo um poema que me agradou deveras, embora seja um pouco triste, de autoria de Paulo Felicíssimo Ferreira, poeta e pensador cego.
 

DESPEDIDA

 Foi bem assim a nossa despedida:
 Partimos, juntos, da singela rua,
 Que minha alma enlaçar-se viu na tua,
 Ambas, então, fundidas numa vida.

  Do tempo a veloz marcha era incontida;
 Qual barco errante, que no mar flutua,
 Minha existência, de esperanças nua,
 Ao sopro da ilusão foi sacudida!

 Entre o amor e o dever, eu, indeciso,
 Sentia que partir era preciso,
 Mas, querendo ficar, tornei-me mudo.

 Tomei da mão pequena que me deste
 E se, sorrindo, nada me disseste,
 Eu, nem chorando, te diria tudo!

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