domingo, 29 de janeiro de 2012

ERICO CALDEIRA

Sobre a saudade

Saudações, caro leitor. Venho mais uma vez compartilhar algumas emoções famintas que devoram meu espírito, tirando meu sossego. Perdoai minha trêmula escrita, por favor, já que meu tema me tem afligido demasiado.
Falo de uma emoção por vezes forte, por vezes tênue, ora agradável, ora incômoda. Não, caro leitor, não é o amor; é, digamos, uma parente próxima. Costuma-se chamá-la saudade.
Não sei se já notaste, mas os momentos de saudade são muito parecidos com crises de abstinência. De alguma forma, ao sermos privados de nossa dose habitual de carinho, de felicidade e de sofrimento (sim, de sofrimento também, por que não?), o corpo urra seu ultraje frente a essa situação e, mesmo depois de experimentar essa dor imensa, descobrimos que não podemos nos livrar dela, pois livrar-se da saudade é negar uma de nossas drogas favoritas, o amor.
Para aqueles que não me entenderam, deixo um poema de Pablo Neruda, uma pessoa a qual acredito ser mais feliz com as palavras do que eu. Para os que entenderam, apenas apreciem os seguintes versos:



Saudade – Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Um comentário:

  1. Excelente! Que texto! Sem dúvida, aqueles que um dia já amaram sabem que o amor e a saudade são sim muito próximas, e de alguma forma ambas nos causam esta abstinência dolorosa e necessária.
    Parabéns pelo texto, Erico!

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