terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.

Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...

Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.

(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.

Cecília Meireles

Um comentário:

  1. “Por que é triste o olhar do verdadeiro viajante? Como ninguém ele sabe que o mundo começou sem ele e se acabará sem o homem. Percebe que todos os mitos, estilos e linguagem são construções de sentido, sempre à beira do vazio. Sente que a sua viagem não terá propriamente um retorno, sua exploração ficará sempre inconclusa.

    “No entanto, entre a solidão que reproduz a máquina de uma cultura herdada e a tristeza desse caos caleidoscópico do mundo que se deixa entrever, prefere a segunda condição, a de navegante solitário, fiel apenas a sua própria narrativa, senhor de suas histórias e paisagens, aquém de todo pensamento e além de toda sociedade...”

    (Claude Levi-strauss, em Tristes Trópicos.)


    EU TAMBÉM NÃO SOU UM LIVROOOOOOOOOO!

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