quarta-feira, 14 de março de 2012

ERICO CALDEIRA


O FOGO

            Quente, simplesmente isso, quente. Será que há uma palavra mais adequada a essa sensação? Uma agitação percorre meu corpo, ativando lembranças das mais diversas. É um cheiro nostálgico de tempos esquecidos, uma visão sublime, um som harmonioso, o toque gentil de uma brisa que me acaricia a face. Sim, até mesmo, até mesmo... sim, um sabor exótico, intenso.
            Teria sido um beijo? Faz apenas um segundo e já não me lembro. Só me lembro que era quente, ou talvez, não... não pode ter sido mais do que isso. Por um instante, creio me lembrar de algo mais, mas o que seria?
            Não importa. É só mais uma lembrança, embora a agitação e a angústia permaneçam. Angústia por que acabou. Por que acabou? Quero mais, só mais uma vez, eu prometo, doutor. Como se chama essa sensação, poeta? Ajuda-me, presta auxílio a este ser desgraçado que não domina nem suas emoções nem as letras. Como se chama essa dor terrível que queima minhas entranhas? Por que dói tanto? Diga-me ao menos uma palavra que defina essa monstruosidade e poderei morrer em paz, mas faça-o rápido, pois não sei se agüento muito tempo.
            “Não é apenas uma sensação, mas pelo menos duas: são mais conhecidas como amor e saudade. Quando for tocado pelo amor, queime junto e quando for tocado pela saudade, abrace-a o mais forte que conseguir, pois quando você finalmente ‘matá-la’ a sensação será tão doce quando a espera foi amarga.”
            Mas é possível matar a saudade?
            “É possível. O problema é que ela não tem apenas uma vida.”
            E quantas vidas ela tem?
            “Quantas gotas há no oceano? Quantas chamas iluminam o céu?”
            E esse fogo que me consome por dentro? Como ele surgiu?
            “Sempre houve fogo em seu interior, faltava apenas um sopro de vida para alimentá-lo.”
            Quente. No final das contas, não havia mesmo uma definição melhor.

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