O FOGO
Quente,
simplesmente isso, quente. Será que há uma palavra mais adequada a essa
sensação? Uma agitação percorre meu corpo, ativando lembranças das mais
diversas. É um cheiro nostálgico de tempos esquecidos, uma visão sublime, um
som harmonioso, o toque gentil de uma brisa que me acaricia a face. Sim, até
mesmo, até mesmo... sim, um sabor exótico, intenso.
Teria
sido um beijo? Faz apenas um segundo e já não me lembro. Só me lembro que era
quente, ou talvez, não... não pode ter sido mais do que isso. Por um instante,
creio me lembrar de algo mais, mas o que seria?
Não
importa. É só mais uma lembrança, embora a agitação e a angústia permaneçam.
Angústia por que acabou. Por que acabou? Quero mais, só mais uma vez, eu
prometo, doutor. Como se chama essa sensação, poeta? Ajuda-me, presta auxílio a
este ser desgraçado que não domina nem suas emoções nem as letras. Como se
chama essa dor terrível que queima minhas entranhas? Por que dói tanto? Diga-me
ao menos uma palavra que defina essa monstruosidade e poderei morrer em paz,
mas faça-o rápido, pois não sei se agüento muito tempo.
“Não
é apenas uma sensação, mas pelo menos duas: são mais conhecidas como amor e
saudade. Quando for tocado pelo amor, queime junto e quando for tocado pela
saudade, abrace-a o mais forte que conseguir, pois quando você finalmente
‘matá-la’ a sensação será tão doce quando a espera foi amarga.”
Mas
é possível matar a saudade?
“É
possível. O problema é que ela não tem apenas uma vida.”
E
quantas vidas ela tem?
“Quantas
gotas há no oceano? Quantas chamas iluminam o céu?”
E
esse fogo que me consome por dentro? Como ele surgiu?
“Sempre
houve fogo em seu interior, faltava apenas um sopro de vida para alimentá-lo.”
Quente.
No final das contas, não havia mesmo uma definição melhor.
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